quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Mestre Roberto Menezes

Roberto Menezes e Ronaldo Brito

Reanto, Haroldo, Major, Bibiu, Ademir e Roberto Menezes. Agachados: Orlandinho, Reinaldo, Silva, Tadeu e Sarão.
Geraldo de Majella
O futebol atrai multidões pelo mundo afora, transformando os seus praticantes em ídolos e arrebatando corações em todo o planeta Terra. Esse esporte, nascido na Inglaterra, catalisou a paixão e a alma do povo brasileiro, passando a ser considerado um símbolo da nossa nacionalidade.

O Brasil tornou-se a grande potência do esporte no decorrer do século XX. Conquistou 5 campeonatos mundiais e atualmente é um dos grandes exportadores de atletas profissionais para todos os continentes. Através do futebol, o Brasil conquistou o Japão, com Zico, e até mesmo a superpotência norte-americana rendeu-se ao encanto de Pelé, o mais espetacular atleta de todos os tempos. Eles foram os responsáveis, os desbravadores, uma espécie de bandeirantes contemporâneos e civilizados.

A alegria e o prazer da prática do futebol são também transferidos para os torcedores e espectadores. O futebol coloca o mundo em tomo da bola, reverenciando-a.

Graças ao mundo globalizado, a magia do futebol percorre os mais longínquos cantos do planeta terra. Nas Alagoas, à beira-mar, o CRB revelou para o futebol um garoto loiro, mais parecendo um alemão, contrastando com os negros que em geral são os donos absolutos da prática do futebol. Na Pajuçara, Roberto Menezes nasceu para o esporte tomando-se, talvez, o principal ídolo da historia do CRB, pelo menos na minha época de torcedor regatiano. É a minha visão de torcedor e, portanto, merece ponderação.

Pioneiro, conciliava a sua vida de jogador de futebol com sua outra atividade, que desempenhava com o mesmo afinco: o curso de engenharia civil na Ufal. Foram inúteis as propostas que recebeu para continuar jogando, mesmo depois de formado. Interrompendo a carreira que iniciara, preferiu construir o seu futuro distante dos gramados, da bola e da torcida, deixando precocemente órfãos os torcedores e os admiradores do seu belo futebol: no CRB e, fugazmente, no CSA, clube em que jogou apenas por um ano.

Definir um jogador como craque é algo que pode ser apenas paixão, nada mais. É comum entre os torcedores acontecer esse tipo de definição: "Fulano é um craque de bola". No caso do Roberto Menezes essa definição foi mais fundamentada. Algumas características definem um craque: a regularidade com que atua em campo, a elegância com que passa a bola para os companheiros, e a principal delas: o craque se diferencia do restante dos jogadores em campo por antever as jogadas, por enxergar os espaços vazios à frente, colocando-se ou mesmo passando a bola aos pés ou na cabeça dos companheiros.

Parece simples, mas é o grande diferencial entre os profissionais do futebol. Há, claro, os jogadores que são verdadeiros showmen em campo, pelas cambalhotas, pela forma de interagir com a torcida, mas não são efetivamente craques. Por mais que se queira explicar o craque, corno diz Tostão: "craque não tem explicação, ele é".

Por mais que os técnicos, hoje, saídos das academias, das escolas, saibam que futebol é o esporte das multidões, pelo menos no Brasil, devem se guiar pela máxima do Nelson Rodrigues, que fala de craques: "O tempo é uma convenção que não existe, nem para o craque nem para as mulheres bonitas".

O futebol é um balé praticado, no Brasil, por pobres e negros, na sua maioria, e portanto, tornou-se um ramo artístico. Seja no balé ou numa orquestra, você era o líder, Roberto, o maestro. A difusão dessa atividade artística ocorre através de milhões de críticos apaixonados que à beira do campo berram, choram, xingam a mãe do juiz, do bandeirinha, do ídolo, do cartola, mas, à semelhança de um raio, rapidamente reconciliam-se com todos no momento supremo do gol.

Sem o aparato tecnológico que hoje há à disposição dos praticantes do esporte − na década de 70 (a TV Gazeta é inaugurada em 75) não havia televisão em Alagoas –, Roberto Menezes conseguiu projetar-se como um ídolo, ultrapassando a fase anterior ao vídeoteipe. Logo, a memória do torcedor e a mídia escrita registraram o dia a dia da sua prodigiosa carreira de craque e mestre do futebol. O povo foi o melhor cronista do seu tempo de atleta, e através da memória popular o seu nome continuará rompendo o tempo como um virtuoso do esporte bretão.

Publicado n' O Jornal, domingo, 11 de abril de 2004.

Um comentário:

  1. Geraldo, aqui é Adolpho que escreve. Sou seu conterrâneo de Anadia, filho de Manoel Coelho! Parabéns pelo Blog!

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