segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ouro Preto, até a próxima




Geraldo de Majella

 

            Andar em Ouro Preto, subindo e descendo ladeiras, é aconselhável para manter o equilíbrio, apurar o olhar no casario colonial, além, claro, do exercício físico. As ladeiras íngremes, quando molhadas, são escorregadias. A prudência é a melhor conselheira, dizem os mais velhos.

Andar devagar, sem pressa, parando em frente às igrejas, capelas, museus. A máquina fotográfica é um equipamento essencial. Num tempo em que o aparelho celular tem múltiplas funções, a tradicional máquina fotográfica ganha nas mãos dos mais jovens um papel secundário.   

Ao caminharmos pelas ruas estreitas, de pavimento irregular, ficamos atentos mais ao chão que ao casario. Seja morador ou turista, o movimento cotidiano em alguma medida se perde ao andarmos de olhos fitos no chão. Algumas ruas são de pedra rachão; outras de paralelepípedo.

A cidade é diferente de tudo o que conhecemos, parecendo um cenário cinematográfico. Tudo é bonito. Os detalhes sobram, e para onde olharmos veremos o conjunto arquitetônico constituído no período colonial. É, sem exagero, um monumento a céu aberto encravado entre as montanhas das Minas Gerais.

Ao olhar, como eu olhei pela primeira vez, as obras do genial Aleijadinho, vi-me diante do inexplicável e do incompreensível. Perguntei-me inúmeras vezes como uma pessoa com tantas e tão graves dificuldades físicas conseguiu produzir obras inigualáveis em qualquer tempo. Coisa de gênio é a única explicação encontrada.   

Os olhos dão o zoom, aproximam o passado barroco nos detalhes da cantaria lavrada, no azulejo que adorna os casarões seculares.

            As pernas estão firmes – a idade ainda ajuda –, mas não é para abusar. É recomendável, é prudente – digo com prazer − escolher um dos tantos cafés para sentar, jogar conversa fora e saborear um comprido ou curto, de preferência com leite. Afinal, estamos em Minas Gerais, e o leite é o principal produto. O café é também um dos bons produtos das Gerais. Assim como as cachaças − no plural −, pela qualidade e pela variedade.

            As comidas não são nada dietéticas (light), pois tudo que é bom engorda e em geral é saboroso. Não é permitido entrar e sair de Minas Gerais sem apreciar as comidas tradicionais. O leitão à pururuca, os torresmos e as carnes. É tão só a entrada; em seguida, é a vez das sobremesas: os doces são bons, maravilhosos. Eu, apesar de diabético, me fiz no doce de mamão verde com cravo e canela. Houve algumas variações, e às vezes parcerias entre doces de leite, mamão e abóbora no mesmo prato, com queijo minas.

            A culpa, essa eterna perseguidora, me acompanhou durante as minhas andanças pelas Minas Gerais. Antes que fosse consumido por ela, caminhei sempre em companhia de Vânia mais que o necessário para queimar o açúcar consumido nas sobremesas.

            Após as minhas extravagâncias, vali-me do poeta Fernando Pessoa. Valeu a pena? “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”

            Ouro Preto, até a próxima.

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